sexta-feira, maio 05, 2006

morte

Sempre disse que não queria aquela vida para si. Sempre afirmou para si própria com toda a convicção do seu ser que nunca quereria aquele pedaço dele. Repetia-o constantemente, mas andava a enganar-se. Ela queria. Ela quer. Quer aquele pedaço dele com todas as suas forças. Deseja-o ardentemente porque, no fundo, sabe que é só o que alguma vez terá dele. Sempre disse que queria a essência maior, o ser mais puro, mas na verdade quer aquele pedaço – o rasgado, batido, oferecido ao desbarato nas calçadas gastas da sua cidade. Quer o amor sujo das roupas no chão. Quer o amor que não é amor, é só restos deles. Quer a respiração curta porque sabe que nunca terá os seus suspiros. E esquece os poemas, o amor maior que sonhava querer. E foge. Foge dela, para longe. Foge de si própria para se oferecer a ele como nunca se ofereceu a ninguém! Como ele nunca se ofereceria a ela… Vendida. Por nada. Ninguém paga nada. E a indiferença mata. A indiferença dele mata-a.

6 comentário(s):

Celi M. disse...

A indiferença mats, e mata toda a gente ao desbarato. e mata quem sorri e quem olha com um esgar mesmo que...
Só quero perceber o título, porque o resto toca no acordeão vermelho em m,il pulsaºões que me enchem de vida!
Gostei mt!
***

SA. disse...

É, são assim as indiferenças, também nunca soube mt bem como lidar com elas.
Gostei mt*

Liliana Bárcia disse...

a indiferença é mais forte que a negação..

W disse...

Eu já tinha lido isto, mas ainda não tinha comentado.Não sei bem o que dizer, mas gostei muito.


Take care,menina

***
B.

luís disse...

muito bem escrito, tania. mesmo muito bem, os teus textos parece-me sempre excrto de uma narrativa maior.. para quando uma coisa com mais paginas?

eu apoio***

perdida em Faro disse...

"Quase pecado o que se deixa, quase pecado o que se ignora..."