domingo, março 30, 2008

holofotes


As histórias por trás destas imagens aqui.

sexta-feira, março 07, 2008

noite


O som dos passos firmes na calçada ecoava na noite. Avançava sem ver o caminho, sem direcção, sem olhar para trás. O importante era caminhar e, para ela, não havia melhor companhia que a madrugada nas ruas desertas da povoação. Não sabia o que fazer de si naquele chão que não é seu. Parou hesitante, sem saber para onde ir. Como escolher um rumo se nenhuma daquelas ruas lhe pertence? Meteu as mãos nos bolsos decidida a avançar quando se apercebeu que o cigarro que lhe deras ainda lá estava, esquecido. Pegou nele e passou-o por entre os dedos. Sentou-se nas escadas da casa mais próxima e acendeu-o. Mas nem essa liberdade lhe é permitida, até esse pequeno prazer é teu, afinal de contas foste tu quem lhe deu o cigarro! Atirou o isqueiro para o chão, não suportava sequer olhar para a publicidade do café da povoação onde costuma ir contigo, gravada no plástico azul. O seu olhar oscila, ora fita os pés, ora fita os dedos trémulos que seguram o cigarro acesso. Não tem coragem para olhar em volta. Cada pedaço de rua, cada casa, cada pedra do muro em frente a lembram de ti. Não há nada que seja dela neste sítio. A ideia de partir atormenta-a. Os seus pés precisam de sentir a liberdade da estrada outra vez. Precisa de caminhar até encontrar um lugar que lhe pertença verdadeiramente. Partir, é só nisso que pensa. Apaga o cigarro e levanta-se, caminha mais um pouco – determinada, desta vez – até que pára à porta de tua casa. Tu estás a fumar sentado no degrau da frente, não tiveste coragem de entrar sozinho. A tua presença desarma-a, senta-se ao teu lado e encosta a cabeça no teu ombro. Ficam em silêncio. Dás uma última passa no cigarro e atiras a beata para o outro lado da rua. Ficas a olhá-la até que se extingue. Levantam-se ao mesmo tempo. Entram em casa, vão dormir, que a madrugada não vos pertence e a noite está demasiado fria.