domingo, agosto 21, 2005

Para ti, avó

Hoje agarro-me à memória que tenho de ti. Agarro-me com força porque tenho tanto medo que ela se perca... Hoje, mais do que nunca, quero acreditar que o céu existe. Esse céu que não sei onde fica e em que acho que tu mesma nunca acreditaste. Hoje quero acreditar que é lá que estás - num mundo mágico feito de algodão doce. Nesse mundo tão nosso, onde comemos chocapic nas manhãs de inverno e procuramos conchinhas nas tardes de verão. Hoje não quero chorar, quero que a dor passe e se transforme em esperança. Por isso, quero acreditar que estás num lugar feliz (porque nunca soube se o foste - sei tão pouco de ti, da tua vida). Quero acreditar que me vês, que me sentes, quero que saibas tudo o que não fui capaz de te dizer antes. Sente o quanto gosto de ti. Olha para mim, se puderes, e vê que afinal ainda estás viva neste cantinho do meu coração que é só teu. É por isso que não quero perder as recordações que tenho de ti, de nós. Porque afinal ainda vives dentro de mim. E acredito no céu, porque se lá não estivesses o que seria feito destas lembranças? Que outra razão teriam elas para permanecer comigo senão o facto de as poder, ainda, partilhar contigo?
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Hoje partilho com vocês um texto que escrevi há já algum tempo, quando li o "Fazes-me falta" da Inês Pedrosa, um livro que me trouxe tantas recordações da minha avó Ana... porque não sei em que acredito... talvez só nestas palavras...

4 comentário(s):

polly_maggoo disse...

A minha avó materna chama-se Celeste e já partiu há quase 10 anos. cresci junto a ela e como deves calcular amiga, este texto não podia fazer mais sentido para mim. gostava muito que ela me conhecesse agora com 21 anos e com montes de motivos para ela se orgulhar de mim, para a levar comigo a voar de avião até londres e mostrar-lhe o mundo. Hoje sei que ela está bem guardada e lá onde quer queesteja estará feliz talvez a conversar com a tua avó Ana. Tenho saudades de me fazeres bolinhas com o miolo do pão, tenho saudades do teu avental molhado depois de lavares a loiça, tenho saudades de ler para ti, tenho tristeza de nunca me teres deixado ensinar-te a ler. mas sei que me sorvias as palavras quando lia para ti e estavas sempre tão atenta nunca te escapava nada. um beijo a ti avó celeste. um beijo a ti amiga tânia por me fazeres reviver por momentos escassos a pessoa que me deu todos os valores morais de que sou fruto hoje. "fazes-me falta" é sem duvida um dos melhores livros de SEMPRE.

W disse...

Bonito:) Os meus avós ainda estão todos presentes. A tua avó tinha um nome bonito. beijos *

luís disse...

A vida é tudo o que nos lembramos dela. Sei que nunca vais deixar morrer a tua avó. Sei que estará sempre contigo porque afinal tens um céu para tartilhar e tantas mais coisas bonitas dentro de ti.

Leva de mim um beijo, que hoje mereces*

Ana Sofia disse...

Ainda tenho as minhas duas avós mas avôs já não tenho nenhum...o primeiro partiu quando tinha 6 anos e tal como a Polly disse, também eu gostava que ele me visse agora, me visse prestes a terminar a faculdade, me visse a já saber conduzir um carro, me visse com um rosto adulto, me visse com o meu namorado e quem sabe até um casamento ou um bisneto mas, como dizes Tãnia, é melhor acreditarmos que eles se encontram num sitio feliz onde podem olhar para nós...Todos afirmamos que não devemos chorar por perder mas agradecer por ter tido mas, por vezes, a recordação torna-se tão vazia...

beijos muito grandes para ti
Anok@s